(Uma fé confiante,um coração humilde,uma obediência genuina e uma pureza angelical)
Capitulo IV
UMA FÉ CAPAZ DE TRANSPORTAR MONTANHAS
Aulas,brinquedos,longas fugas para o interior das igrejas,onde permanecia horas a fio rezando,vigiar um pequeno rebanho,eis aí as ocupações do garoto Geraldo.
Tudo era maravilhas.Visão bucólica e poética:nosso pastorzinho,muito magro,assoviando as ovelhas pelas encostas,montes e valados ao redor de Muro entre olivais prateados...
- Mas há sempre os que não se sensibilizam com poesia e bucolismo,e só tem olhos para o lado utilitário e imediatista da vida.
Certo.E foi o que aconteceu:uns sujeitos,amigos do alheio,roubaram-lhe um carneirinho.Pode ser que soubessem das "distrações" de Geraldo,sempre "perdido"em Deus.Fizeram o "serviço" bem-feito,tratando logo de degolar o carneirinho e enfiá-lo num espeto para um bom churrasco.
- E como se arranjou nosso amigo?Que desculpas deu em casa?
De volta a casa,pela boca da noite,é que notou a falta do cordeirinho.Contou,recontou todo rebanho,mais o quociente dava sempre o mesmo: falta um!
- Sei.É embaraçoso mesmo.A matemática é implacável,e não é em vão que é chamada de ciência exata...
Pois é...Mas,e agora? Encontrar o bichinho aquela hora? Impossível...Geraldo relembra por onde andaram naquele dia,onde os animais beberam,pastaram...onde descansaram à sombra das árvores...Tudo apontava na mesma direção:fora roubado! Avalia a situação criada para seus pais; são muito pobres, o rebanho pertencia a um senhor,ele ganhava alguma coisa para cuidar das ovelhas...
- Leve-se em conta o caráter sanguíneo dos Italianos do Sul,sempre prontos a explodir em pragas e imprecações...que muito pouco agradariam a Geraldo...
Mas ele não se gasta com tão pouco.Recolhe-se um momento pensativo e depois assegura aos presentes com a maior convicção e simplicidade:
"Daqui a pouco o carneirinho estará aqui são e salvo".
- E aconteceu?
Como ele dissera.
Geraldo ajoelha-se e põe-se a rezar com aquela fé humilde, simples e confiante de um justo.Dali a pouco ouve-se o balido choroso do cordeirinho retardatário,esforçando-se por encontrar sua mamãe em meio à manada.
Quem haveria de crer!
Apenas garanto-lhe: tudo é tão simples,tão possível para quem crer verdadeiramente.Talvez seja essa a diferença entre a nossa,e a fé de Geraldo:temos uma fé de profissão,de palavras,de raciocínio;Geraldo tem uma fé de entrega,uma fé de crédito,ou seja,uma fé que crê.
Jesus tinha dito: "Pedi e recebereis,batei e abrir-se-vos-á",e ele não fazia de Jesus um mentiroso,acreditava ao pé da letra.Para sua fé ingênua,talvez,e pouco ilustrada por raciocínios difíceis,tudo era possível,até mesmo e a volta de um carneirinho vivo,que talvez tivesse sido degolado,espostejado e rodado num espeto ao fogo.Para ele,tudo era tão possível como um piscar de olhos,um jogo com bolinhas de gude,um pega-pega.
O Cônego penitenciário da catedral de Muro foi quem perenizou o testemunho deste fato,relatando-o por escrito,e assim chegou até nós.
Livro: São Geraldo Majela - Pe.Braz Delfino Vieira. EDITORA:SANTUÁRIO