12 de setembro de 2012

Fatos da vida de São Domingos Sávio narrados por São João Bosco




Fatos da vida de São Domingos Sávio
narrados por São João Bosco

Devoção à Mãe de Deus


Entre os dons que Nosso Senhor lhe outorgou distinguia-se o seu fervor na oração. O seu espírito estava tão habituado a conversar com Deus que, em qualquer lugar, mesmo no meio da maior confusão, Domingos concentrava os seus pensamentos e, com piedoso afeto, elevava o coração a Deus.

Quando orava em comum, parecia um anjo; de joelhos, imóvel, em atitude devota, com o rosto sorridente, a cabeça um pouco inclinada e os olhos baixos, parecia outro São Luís.

Bastava vê-lo para se ficar enternecido. Em 1854 o Conde Cays foi eleito presidente da Companhia de São Luís, fundada no Oratório. Da primeira vez que tomou parte nas nossas cerimônias, viu um menino numa atitude devota que lhe causou grande admiração. Terminada a função, quis saber quem era aquele rapaz que tanto o impressionara: - era Domingos Sávio.

Sacrificava quase sempre uma parte do recreio para ir à Igreja e ali rezar a
coroa das Sete Dores de Maria, ou, pelo menos, a ladainha de Nossa Senhora das Dores.

Não se contentava em ser devoto de Maria Virgem Imaculada. Em honra da celeste Senhora fazia todos os dias alguma mortificação. Nunca fitava pessoas de sexo diferente. Indo às aulas, raramente levantava os olhos do chão. Passando às vezes perto de espetáculos públicos, que para os companheiros era objeto de curiosidade e de satisfação, ao perguntarem-lhe se tinha gostado, Domingos respondia que não tinha visto nada.

Um dia, um companheiro encolerizado reprovou esse seu modo de proceder, dizendo-lhe:

- Para que tens esses olhos, meu parvo, se não vês tais coisas?

- Os meus olhos, respondeu Domingos, quero-os para ver o rosto da nossa Mãe Celeste, a Virgem Maria, quando, se for digno disso, me receber Deus no Paraíso.

Cultivava uma devoção especial ao Imaculado Coração de Maria. Todas as vezes que entrava numa igreja, ia direto ao Seu altar para Lhe pedir queconservasse o seu coração bem longe de qualquer impureza.

- Maria,- dizia ele – quero ser sempre Vosso filho. Fazei que morra antes que me suceda à desgraça de cometer um pecado contra a modéstia.

Todas as sextas-feiras destinava uma parte do tempo para ler um bom livro ou ir à igreja com alguns companheiros, orar pelas almas do Purgatório ou em homenagem a Maria Santíssima. Muito grande era a devoção de Domingos a Nossa Senhora.

Viam-no radiante de alegria todas as vezes que podia levar alguém para rezar diante do altar da Mãe de Deus. Certo sábado convidou um amigo a ir com ele a igreja rezas as Vésperas da Bem-Aventurada Virgem Maria. Este tentou: esquivar-se alegando estar com as mãos frias. Domingos tirou imediatamente as luvas, ofereceu-as ao companheiro e entraram ambos na igreja. Noutra ocasião emprestou o capote a um companheiro friorento para o mesmo fim. Quem não ficará tomado de admiração perante tais atos de generosidade?

Maio, o mês consagrado a Nossa Senhora, era para Domingos o mês do seu maior fervor. Combinava com os outros para, em cada dia do mês, fazerem uma cerimônia particular, além das que se faziam na igreja. Preparava uma série de exemplos edificantes, que narrava aos companheiros para animá-los a serem devotos de Maria Santíssima. Falava nisso durante os recreios e incitava-os a comungarem, especialmente no mês das flores, como preito a Maria: Era o primeiro a dar o exemplo, aproximando-se todos os dias da Sagrada Mesa com seráfico recolhimento.

Um episódio curioso revela-nos a ternura que ele consagrava à Mãe de Deus. Os alunos do seu dormitório deliberaram fazer, as expensas suas, um elegante altarzinho para solenizarem com mais brilho o encerramento do mês de Maria. Domingos era uma doba doura nesse trabalho; mas chegando-se à altura do pagamento da cota, que cada qual devia dar, começaram as dificuldades. Domingos declarou:

- Até aqui vamos bem, mas para estas coisas precisa-se de dinheiro e é o que eu não tenho. No entanto, quero contribuir de qualquer modo, custe o que custar.

E, dizendo isto, foi buscar um livro que lhe tinha sido dado de prêmio, e pedindo licença aos superiores, voltou radiante de alegria dizendo:

- Meus amigos, estou em condições de concorrer com alguma coisa para honrar a Virgem Santíssima; pegai neste livro, tirai dele a utilidade que puderdes; é a minha oferta.

Á vista daquele ato espontâneo de generosidade, os companheiros enterneceram-se e também quiseram oferecer livros e objetos. Com esse material fizeram uma rifa, e conseguiram arranjar mais do que o necessário para as despesas.

Concluído o altar, os alunos queriam celebrar a festa com a maior solenidade. Todos trabalhavam o mais que podiam, mas não conseguindo acabar a ornamentação, foi preciso trabalhar de noite.

- Eu passarei a noite a trabalhar – disse Domingos.

- Ao menos, vinde acordar-me assim que tudo estiver pronto, para eu ser um dos primeiros a admirar o altar ornamentado em homenagem à nossa querida Mãe.

Os companheiros obrigaram-no, porém, a ir-se deitar, visto estar convalescente de uma doença que tivera. Domingos não queria e foi necessário insistir muito para que obedecesse.

Freqüência dos Sacramentos

Está comprovada pela experiência que os melhores sustentáculos da mocidade são o Sacramento da Confissão e da Comunhão. Dai-me um rapaz que freqüente estes sacramentos: tal rapaz crescerá, passará pela puberdade, chegará à virilidade e, se Deus for servido, à mais avançada velhice, com um procedimento que servirá de exemplo a todos os que o conheceram.

Praza a Deus que todos os rapazes compreendam isto, para o praticarem, e bem assim todos os que se ocupam da educação da juventude para o ensinarem.

Antes de vir para o Oratório, Domingos aproximava-se destes dois Sacramentos uma vez por mês, segundo o uso das Escolas. Depois os freqüentou com mais assiduidade. Um dia, ouviu do púlpito esta máxima:

“Jovens, se quiserdes perseverar no caminho do Céu, recomendo-vos estas três coisas: aproximai-vos muitas vezes do Sacramento da Confissão, freqüentai a santa Comunhão, e escolhei um confessor a quem possais abrir o vosso coração, mas não o troqueis sem necessidade”.

Domingos compreendeu a importância destes três conselhos. Começou por escolher um confessor e conservou-o durante todo o tempo que esteve no Oratório. Para que este pudesse formar um juízo exato da sua consciência, quis como era natural, fazer uma Confissão geral de toda a sua vida.

Confessava-se, a princípio todos os quinze dias, mas tarde todos os oito dias, comungando com a mesma freqüência. O confessor, notando o grande progresso que fazia nas coisas do espírito, aconselhou-o a comungar três vezes por semana, e, ao cabo de um não, permitiu-lhe a comunhão diária.

Foi durante algum tempo dominado pelos escrúpulos; por isso, queria confessar-se de quatro em quatro dias e ainda mais amiúde; mas o seu diretor espiritual não concordou com esse desejo e obrigou-o à disciplina da confissão semanal.

Tinha uma confiança ilimitada no confessor. Falava com ele das coisas da consciência, mesmo fora do confessionário, e com toda a simplicidade. Alguém o aconselhou a mudar de confessor, de vez em quando, ao que ele anuiu:

“O confessor – dizia ele – é o médico da alma; não é costume trocá-lo a não ser por falta de confiança, ou porque o mal está muito adiantado. Não estou nestes casos. Tenho plena confiança no meu confessor que, com bondade e solicitude paternal, se empenha no aperfeiçoamento da minha alma; além disso, não vejo em mim chaga que ele não possa curar”.

No entanto, o diretor ordinário aconselhou-o a mudar, uma ou outra vez, de confessor, especialmente por ocasião dos Exercícios espirituais; sem opor a mínima dificuldade, obedeceu prontamente.

Domingos vivia alegre porque estava sempre em paz com a sua consciência.

"Se tenho qualquer mágoa no coração – dizia ele – vou ao meu confessor que me aconselhe o que Deus quer que eu faça, pois, Jesus Cristo disse que a voz do confessor é a voz de Deus. Se desejo alcançar alguma coisa importante, então vou receber a Hóstia Sagrada na qual está: o mesmo corpo, sangue, alma e divindade que Jesus Cristo ofereceu a Seu Pai Eterno Pai por nós na Cruz. Que mais me falta para ser feliz? Neste mundo, nada. Só me resta poder gozar no Céu d’Aquele que hoje adoro e contemplo, sobre os altares, com os olhos da fé”.

Com estes pensamentos, Domingos passava dias verdadeiramente felizes. Daqui nascia aquele contemplamento, aquela alegria celestial que transparecia em todas as suas ações. Compreendia muito bem tudo o que fazia, e tinha um teor de vida cristã, como convém que o tenha quem deseja fazer a Comunhão diária. Por isso, o seu comportamento era, sob todos os pontos de vista, irrepreensível. Convidei os seus condiscípulos a dizerem-me, durante os três anos que ele viveu conosco, lhe notaram algum defeito a corrigir ou alguma virtude a adquirir.

Todos, a uma, responderam que nunca encontraram nele coisa alguma que merecesse correção, nem virtude que se lhe devesse acrescentar às que já praticava.
A sua preparação para receber o Pão dos Anjos era piedosa e edificante. À noite, antes de se deitar, recomendava-se sempre assim:

“Graças e louvores se dêem a todo o momento, ao Santíssimo e Diviníssimo Sacramento!”

De manhã, era esse grande ato precedido de uma preparação suficiente; mas a ação de graças, essa não tinha fim. Muitas vezes, se ninguém chamava, esquecia-se da refeição, do recreio e algumas vezes do estudo, permanecendo em oração, ou melhor, na contemplação da divina Bondade, que de um modo inefável comunica aos homens os tesouros da Sua infinita misericórdia.

Era para ele uma verdadeira delícia o poder passar algumas horas diante de Jesus Sacramentado. Invariavelmente, ao menos uma vez por dia, costumava fazer-Lhe uma visita, convidando outros a ir em sua companhia. A sua oração predileta era a coroinha do Sagrado Coração de Jesus para reparação das injúrias que recebe dos hereges, dos infiéis e dos maus cristãos.
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