(carta 272) Resumo do livro “O diálogo”
Esta carta foi escrita de próprio punho por Santa Catarina em outubro de 1377. Fala de uma impressionante experiência mística, tida pela santa no dia de São Francisco de Assis. É como um resumo de sua obra prima o Diálogo.
Para frei Raimundo de Cápua
Saudação e objetivo
Em nome de Jesus Cristo crucificado e da bondosa Maria, caríssimo e bondoso pai em Jesus Cristo, eu Catarina, serva e escrava dos servos de jesus, vos escrevo no seu precioso sangue, desejosa de vos ver seguidor e amante da verdade, qual verdadeiro filho do crucificado. Ele é a verdade e a flor perfumada na ordem e na hierarquia da santa Igreja, e vós também deveis sê-lo. Ocorre não desanimar e não retroceder por causa das numerosas perseguições. Seria muito louco aquele que desprezasse uma rosa por medo dos espinhos! Quero vos ver como homem forte, sem medo de ninguém. Estou certa de que, pela infinita bondade divina, se realizará este meu desejo.
Necessidade de reforma da Igreja.
Caríssimo pai, revesti-vos de fortaleza na doce esposa de Cristo. Quanto mais ela sofre dificuldades e amarguras, tanto mais a verdade divina promete enchê-la de felicidade e conforto. Sua felicidade será esta: a reforma mediante pastores santos e bons, autênticas flores a dar perfume e glória a Deus pelas virtudes. Essa é a reforma necessária, ou seja, a dos sacerdotes e pastores. A essência dessa esposa não carece de reforma, pois não descrece nem é prejudicada pelos delitos dos ministros. Alegrai-vos, portanto, na amargura! Deus prometeu dar-nos a paz depois da angústia.
Três pedidos a Deus
Tal foi a consolação que recebi ao chegar-me a carta do bondoso papai (2) e a vossa. Sofre muito pelo dano causado à santa Igreja e por causa de vossa tristeza, segundo quanto experimentei dentro de mim no dia de São Francisco. Fiquei feliz, porque me tirastes a preocupação. Tendo lido as cartas e compreendido tudo, pedi a uma serva de Deus (a própria Catarina) que oferecesse lágrimas e suores em favor da santa Igreja e pela doença do papa. Por graça divina, imediatamente cresceram, fora de medida, o desejo santo e a alegria. Aquela serva ficou esperando que amanhecesse para ir à missa, pois era o dia de Maria (3). Chegada a hora da missa, colocou-se no seu lugar, meditando sobre a própria imperfeição e envergonhado-se diante de Deus. Elevada por inflamado anseio, fixou o olhar da fé na verdade eterna e apresentou-lhe quatro pedidos, enquanto se conservava a si mesma e seu diretor espiritual (4) diante da Igreja, esposa de Cristo.
Em primeiro lugar, implorou a reforma da santa Igreja. Então Deus Pai, deixando-se obrigar pelas suas lágrimas e amarrar-se pelo seu desejo, disse: “Minha filha querida, vê como está suja a face da Igreja devido à impureza, egoísmo, orgulho e ganância dos seus ministros.
Derrama lágrimas e suor, hauridos na fonte da minha caridade, e lava-lhe o rosto. Afirmo-te que sua beleza não virá da espada, da violência e da guerra, mas da paz, das orações humildes e contínuas, do suor e das lágrimas, do amor inflamado dos meus servidores. Realizarei teu desejo em grandes sofrimentos, mas nunca vos faltará minha providência”.
Embora tal resposta contivesse a salvação do mundo todo, assim mesmo a oração desceu ao particular e a serva rogou por todo o universo. Então Deus Pai fez-lhe ver o amor com que criara o homem e disse: “Vê como todos me ofendem! Considera, filha, os diversos e numerosos pecados com que me atingem. Sobretudo o infeliz e abominável egoísmo, fonte de todos os males, com o qual envenenaram o mundo todo. Por isso vós, meus servidores, ponde-vos diante de mim, com muita oração. Assim diminuireis a severidade do meu julgamento. Saibas que ninguém pode escapar das minas mãos.
Com o pensamento, olha para minhas mãos”. Em pensamento aquela serva viu o mundo inteiro nas mãos de Deus, que disse: “Deves saber que ninguém escapa de minhas mãos. Por justiça ou por misericórdia, todos estão nelas. Todos os homens me pertencem, todos saíram de mim; amo-os inefavelmente. Usarei de misericórdia graças aos meus servidores”. Então aquela serva sentia-se feliz e ansiosa por causa da chama de amor que aumentava. Mostrava-se grata a Deus. Compreendia que Deus lhe manifestava os pecados dos homens, a fim de que ela se aplicasse com maior empenho e maior amor. De fato, tanto se avolumou a chama sagrada do amor, que nenhum valor atribuía ao suor de água que transpirava, e desejava que seu corpo suasse sangue. Disse ela: “Ó minha alma, perdeste todo o tempo de tua vida! Eis o motivo por que sobrevieram tantos males e danos à santa Igreja e ao mundo, seja em geral como em particular. Por essa razão, quero que remedies agora com suor de sangue”.
A serva, sob o impulso do desejo santo, elevou-se ainda mais e na fé meditava sobre a caridade divina. Ela percebeu e experimentou quanta obrigação temos de procurar a glória e o louvor de Deus mediante a salvação dos homens. Aliás, justamente a isso a verdade eterna vos (5) convida e conclamava em resposta ao terceiro pedido, relativo à vossa salvação. Dizia Deus: “Filha, eu quero que ele procure com todo empenho a própria salvação. Mas isso seria impossível, tanto para ele como para qualquer outra pessoa, sem passar por muitos sofrimentos, conforme eu os permitir. Dize-lhe: “Já que desejas ver-me honrado na santa Igreja, então aceita o sofrimento com amor e paciência”. Será essa a prova de que ele e os demais servidores realmente procuram a minha glória.
Jesus, a ponte para todos
Somente assim ele será um filho caríssimo e repousará sobre o peito de meu Filho unigênito, ponte construída por mim a fim de que todos possais alcançar, experimentar e obter o prêmio pelas fadigas suportadas. Filho, sabeis que a estrada (para o céu) foi interrompida pelo pecado e desobediência de Adão. Ningué mais conseguia atingir a meta; já não se realizava meu plano, segundo o qual criara o homem a minha imagem e semelhança desejoso de que ele alcançasse a vida eterna e participasse e experimentasse minha suma e eterna bondade. Esse pecado deu origem a males e sofrimentos, bem como a um rio cujas as ondas continuamente esbravejam. Para não vos afogardes connstrui uma ponte em meu Filho, pela qual poderíeis passar. Usai vossa fé e vede como do céu a ponte chega à terra. De fato, se tal ponte fosse algo de terreno não possuiria a grandiosidade necessária para transpor o rio e dar-vos a vida. Tal ponte une o céu com a terra. É desse vosso enteresse portanto caminhar por ela procurando a glória do meu nome mediante a salvação dos homens, suportanto numerosas dificuldades na dor, seguindo as pegadas do amoroso e doce Verbo encarnado. Sois meus operários postos a trabalhar na vinha da Santa Igreja, pois desejo ser misericordioso para com o mundo. Cuidai, porém, de não irdes pelo caminho de baixo; não é essa a estrada verdadeira.
Os que vão pelo Rio do pecado
Sabes quais são os que vão por baixo desta ponte? São os iníquos pecadores. Em favor deles eu quero que me implores lágrimas e suor pois jazem nas trevas do pecado mortal. Eles vão pelo rio e se não aceitarem o meu jugo irão para a eterna condenação. Numerosos pecadores por medo do castigo dirigem-se para a margem e abandonam o pecado mortal. Ao sentirem seus males, deixam o rio. Se não forem negligentes, senão adormecerem no egoísmo atingirão a ponte e a ela subirão pelas práticas da virtude. Mas se continuarem no egoísmo e na negligência tudo lhes parecerá difícil. Sem perseverança qualquer evento contrário os fará retornar ao pecado.
Os que sobem pela ponte
Aquela serva vira as diversas maneiras como os homens se afogavam no rio do pecado; por isso Deus Pai lhe disse:”olha agora os que vão pela ponte de Cristo crucificado”. Ela os viu correr rapidamente pois estavam livres do peso da vontade própria. Eram os verdadeiros filhos. Após desprezar a si mesmos, caminhavam inflamados de desejos santo, unicamente a procura da glória divina e da salvação dos homens. Sobe seus pés corria água do rio do pecado, pois caminhavam pela ponte de Cristo crucificado. Caminhavam sobre espinhos, mas estes não lhes causavam dor. Graças a sua caridade, não se preocupavam com os espinhos das perseguições. Pacientemente abandonavam as riquezas, que (também) são espinhos cruéis e mortais para aqueles que as conservam em desordenado amor; abandonavam-nas como se fossem um veneno. Sua única preocupação era alegrar-se na cruz de Cristo, único valor de suas vidas.
Outros caminhavam (pela ponte) por quê? Porque não procuravam o Cristo crucificado na fé, mas consolações espirituais, atitude esta que torna imperfeito o amor freqüentemente paravam, à semelhança de Pedro antes da paixão, no tempo em que somente se preocupava em gozar da companhia de Cristo. De fato quando lhe foi retirada a consolação Pedro fracassou mas ao fortificar-se no desprezo de si, nada mais quiz a não ser o conhecimento e procura de Cristo crucificado. Também os imperfeitos são fracos e não progridem no desejo santo quando lhe são tiradas as consolações do espírito. Nos sofrimentos, tentações do demônio, atrativos humanos, dificuldades pessoais, sentem-se privados do objeto que amavam e desanimam, abandonam a seqüela de Cristo. Por meio de Cristo eles tencionavam seguir Deus Pais no prazer das consolações, visto que no Pai não acontecem dores; mas somente em Jesus.
Aquela serva compreendia que a fraqueza dos imperfeitos só pode ser corrigida se eles seguirem o fim, dizia lhe Deus Pai: “ninguém pode vir a mim a não ser por meio do meu Filho unigênito. Foi ele que reconstruiu a estrada que deveis percorrer. Ele é o caminho, a verdade, a vida. As pessoas que vão por tal estrada conhecem experimentalmente a verdade, saboreiam o amor inefável por ele vivido nos sofrimentos. Sabes muito bem que, se eu não vos tivesse amado, não teria dado este Redentor. Amei-vos desde a eternidade preparei meu filho Unigênito e o entreguei a uma horrível morte na cruz. Por sua obediência e morte destruiu a desobediência de Adão e a morte da humanidade. É nele que os homens conhecem a verdade a seguem e atingem a vida eterna. Percorrendo os caminhos de Crito, chegam ao portal da verdade, atravessam-no e chegam ao oceano da paz entre os bem aventurados. Como vês, minha filha, os imperfeitos não dispõem de outro meio para se fortalecerem. Somente por este caminho o homem se une a verdade e alcança a perfeição a qual o chamei. Todo outro meio é penoso e insuficiente o que faz o homem sofrer é o egoísmo espiritual ou sensível. Quem é altruísta, não sofre senão ao me ver ofendido por tal forma sob a direção da caridade, a pessoa torna-se prudente e jamais se afasta de minha doce vontade”.
Outros homens começava a subir para a ponte Cristo, mas reconheciam o próprio pecado unicamente por medo dos castigos deles decorrentes. Pelo medo, em si imperfeito, deixavam a vida de pecado. Destes, muitos passavam rapidamente do temor servil ao temor santo e caminhavam esforçadamente para o segundo e terceiro estado; muitos outros porém, sentavam-se negligentemente a entrada da ponte no temor servíl haviam começado a caminhar, mas aos poucos e na tibieza, sem nenhum amor pelo conhecimento da própria miséria e da bondade dívina presente neles. Por esta razão, continuavam na tibieza. A respeito destes últimos disse Deus Pai: “vê, filha querida, como é impossível a estes últimos não voltar atrás pois não praticam as virtudes. O motivo é este: o homem não vive sem amor, e seus eforços no conhecer e amar concentram-se no objeto amado. Se não procuram conhecer-se como encontrarão um modo de entender a grandeza de minha caridade? Ignorando, não amam; não amando, deixam de me servir. Todavia se não me amam procurarão amar outras coisas; e retornam ao egoísmo! Essas pessoas procedem como o cachorro que come vomita olha para o que rejeitou abocanha-o e engole novamente. São homens negligentes tibios. Haviam se livrado de seus pecados na confissão por medo dos castigos e com pouco esforço tinham começado a trilhar o caminho de Cristo. Sem progredir, retrocedem. Ao se lembrarem dos pecados, não se recordam dos castigos e voltam ao prazer sensível. Perdem o medo, retornam ao pecado, alimentam-se de egoismo e de impureza. Mercem maior repreensão que os demais pecadores. Sou assim maldosamente ofendido pelas minhas criaturas. Por essa razão, filhos caríssimos, peço que não deixeis diminuir o vosso desejo. Que ele cresça e se alimente. Ergam-se meus servidores, aprendam com Cristo a por nos ombros as ovelhas desgarradas e as carregem com muitos sofrimentos, vigilias e preces. Assim, passarão pelo Cristo ponte e serão esposos. Filhos da verdade. Infundirei em vós a sabedoria e a luz da fé; conhecereis perfeitamente a verdade, atingireis a perfeição”.
Bons e maus pastores
Pai bondoso! A bondade e misericórida divina dignou-se revelar-me seus segredos, coisas que a língua humana não pode exprimir. E que ofuscam a inteligência. Minha capacidade de entender fica empobrecida e meu coração angustiado. A uma só voz clamam as minhas faculdades, desejosas de sair deste mundo imperfeito e ir para a meta final, na degustação da suma e eterna Trindade com os cidadãos do céu! Lá, rendem-se glórias e louvores a Deus, refugem as virtudes, bem como o ardor e a caridade dos autênticos pastores e santos religiosos, que foram neste mundo lâmpadas autênticas no candelábro da santa Igreja, e iluminaram o mundo inteiro. Ó Pai, que diferença entre eles e os pastores de nosso dia! sobre estes últimos lamentou-se Deus Pai, dizendo: “os pastores de hoje assemelham-se a mosquitos, afeios os animais que despreocupados, pousam em alimentos doces, cheirosos, e logo depois saem e vão por-se em cima de objetos apodrecidos e asquerosos. Os ministros de hoje, postos a saborear a suavidade do sangue de Cristo, não lhe dão valor. Ao deixar o altar, guardam o corpo de Jesus e os demais sacramentos preciosos cheios de suavidade insubestituíveis fontes de vida para quem os recebe dignamente, mas logo despreocupados, caiem na impureza do corpo e do espirito. É uma maldade vergonhosa, não somente para mim mas até os demônios sentem nojo de tão miseravel pecado”.
Quarto Pedido
Caríssimo Pai! Após ter respondido as três petições, Deus atendeu a quarta, na qual a serva emplora socorro e providência para um caso particular. Dele não posso falar por escrito; contarei de viva voz, se Deus não me der a graça de sair deste corpo antes de encontrar-vos. Nosso corpo possui uma lei, uma lei perversa que continuamente luta contra o espirito. Sabeís que digo a verdade! Seria uma graça se Deus me tirasse do corpo, como dizia, Deus se dignou responder a quarta petição e ao inflamado desejo daquela serva e disse: “Minha filha, a providência jamais faltará para quem a deseja, isto é, para quem espera em mim com perfeição. Refiro-me as pessoas que realmente me imploram no amor e na luz da fé, e não apenas com palavras. Quem me súplica só com palavras: “Senhor, Senhor”, jamais experimentara minha divindade, minha providência. Não os reconheço. Quem me invoca sem virtudes só o reconheço pela justiça e não pela misericórida, afirmo-te pois que minha providência não falha em favor dos que esperam em mim. Quero porém, que te dirijas a mim na paciência. Eu desejo ajudar estas pessoas e todos os que criei a minha imagem e semelhança num grande ato de amor”.
A ilusão dos pecadores
Obedecendo à ordem divina, a serva olhou com fé para o abismo da caridade divina e compreendeu que Deus é bondade. Bondade suma e eterna, que únicamente por amor criou os homens e os remiu no sangue de Cristo, o qual por amor tudo nos dá. Tanto o sofrimento como o prazer, tudo provém do amor divino como providência em prol da salvação dos homens. Disse Deus Pai: “Tudo isso é comprovado pelo sangue derramado por vós. Todavida os pecadores cegos de egoísmo, impacientam-se contra mim. Para próprio prejuízo e dano, interpretam mal e no ódio tudo o que realizo por amor deles, no intuito de livra-los das penas eternas e dar-lhes o céu. Por que se lamentam de mim? Por que odeiam o que deveriam respeitar? Por que emitem juízos sobre os meus ocultos designios, todos eles rétissimos? Assemelham-se aos cegos que pelo tato, gosto e audição, pretende julgar sobre o bem e o mal, baseando-se no seu conhecimento débil e escasso, recuzando-se a opinião de quem encherga. Parecem ainda com um cego louco que pelo tato falaz, não distingue as cores; ou pelo paladar ignora que sobre o alimento andou um animal imundo; ou pelo ouvido não sabe que o cantor pode dar-lhe a morte. Age deste modo quem não tem fé. Ao sentir o prazer oferecido pelo mundo, julga-o coisa ótima; sem perceber que tal prazer constitui apenas uma venda espinhosa e suja para os olhos da fé. O coração de tais pessoas torna-se imsuportável para si mesmas. Esse amor desordenado, este prazer, parecem agradaveis e bons. Dentro deles porém esta o animal imundo do pecado mortal, que sua a alma. Se o homem em tais casos não se purifica mediante a luz da fé, terá morte eterna. O som do egoísmo é melodioso e faz o homem correr atrás da própria sensualidade. Qual cego, o pecador engana-se com o som e, manietado sera levado para o abismo cegos de egoísmo, cheios de presunção os pecadores não me seguem, apesar de ser eu o caminho, o guia, a vida e a luz. Quem anda em mim, não vai ao escuro, nunca erra. Mesmo que não confie em mim desejo a salvação dos pecadores, tudo lhes envio ou permito por amor. Continuamente se revoltam contra mim e eu pacientemente os suporto; amo-os sem ser por eles amados. Impacientes, perseguem-me com ódios murmurações e infidelidades. Seguindo suas cegas opiniões investigam meus ocultos designios, que são justos e amorosos. Não tem alto conhecimento, por isso julgam erradamente. Quem não se conhece também não pode conhecer-me ou ter noção de minha justiça. Filha queres, que te mostre quanto se engana o mundo a respeito dos meus mistérios? Usa tua fé e olha para mim”.
A providência Divina e o caso particular
A serva olhou para Deus cheia de desejos e lhe mostrou a morte daquele homem, pelo qual ela havia implorado, e disse: é bom que eu saibas? para livrar aquele homem da morte eterna, permitiu o que aconteceu. Seu sangue derramado obteve-lhe a vida eterna no sangue de Cristo. Eu me lembrei do respeito e amor que ele tinha pela mãe de Jesus, A dulcissima Maria. Foi por misericórida que permiti o fato, uma crueldade, segundo o falso julgamento humando. Pensam assim, porque o egoísmo lhes apagou a luz da fé; não vêem a verdade. Se afastassem esta nuvem, a conheceriam e amariam; respeitanto o que aconteceu, teriam o prêmio no dia da colheita final. Apesar disso e de outras coisas, meus filhos realizarei vossos desejos com muitos sofrimentos. minha providência agira sobre os pecadores com maior ou menor eficacia, de acordo com sua maior ou menor confiança em mim. Dar-lhe-eis auxílio até em quantidade maior do que merecem, graças aos desejos santos dos meus servidores que me imploram. Acolho as súplicas daqueles que humildimente oram por si e pelos outros. Convido-te pois a implorar meu perdão pelos pecadores e pelo mundo todo. Ó filhos concebei e gerari o homem novo mediante a luta contra o pecado e através de um grande amor”.
Consolações de Catarina
Caríssimo e bondoso Pai! Ao ver e ouvir tanta coisa da verdade eterna parecia que meu coração se partisse em dois. Morro e não consigo morrer. Tende pena desta pobre filha que vive tão contrariada por causa das ofensas cometidas contra Deus e não tem com que se desafogar. Ainda bem que o Espírito Santo achou uma solução no meu íntimo com sua clemência e no exterior mediante a possibilidade de escrevos ver. Confortemo-nos em Cristo Jesus. Sejam os sofrimentos a nossa consolação. Aceitemos entusiasmados, sem negligências o convite divino. Doce pai, alegrai-vos. Sois convidado com tanto amor! Suportai as dores alegremente, com paciência, sem angústia, caso desejeis ser esposo da verdade consolar minha alma. Não há outro modo de receberdes a graça. Eis porque dizia que desejava vos ver “seguidor e amante da verdade”. Nada mais vos digo. Permanecei no santo e doce amor de Deus.
Como Catarina apreende a escrever
Abençoai fr. Mateus em Cristo Jesus. Esta carta e uma outra que vos mandei foram escritas de próprio punho em ilha da Rocca com muitos suspiros e abundância de lágrimas. Meu olho nem mais enchergava. Eu mesma fiquei cheia de admiração, meditando sobre a bondade e a misericórida de Deus para comigo e para com todos na sua providência. Quanto a mim deu me paz, pois encontrava-me sem nenhuma consolação. como não tivesse apreendido a escrever por ignorância minha, Deus providenciou dando me a capacidade de apreender. Assim decendo das alturas poderia desafogar um pouco o coração, evitando que explodisse. Por uma forma adimiravel a maneira do mestre que ensina a criança com o exemplo, Deus imprimiu (a capacidade de escrever) em meu espirito. Logo que partistes, adormecendo, comecei a escrever com o glorioso evangelista João e com Tomás de Aquino. Perdoai-me se escrevi demais. É que a mão e a língua concordam com o coração. Jesus doce Jesus amor.